photography
EDMAR CONCEIÇÃO

BRUXO CESÁRIO
Há dias dedico-me a este texto. Não é fácil preencher um papel imerso pelas belas fotografias de Marcos Cesário, exigindo dos meus dedos uma delicadeza incomum, deixando-me perdido como um menino afoito nas margens do indizível, beirando o feitiço do encanto.
É difícil escrever sobre aquilo que desperta a silhueta do próprio silêncio, revelando que ainda é possível sorver as promessas adormecidas, enchendo os olhos de esperança a cada imagem.
Vejo-me agora nas fotografias capturadas por Marcos Cesário, seus quadros espalhados em minha casa parecem janelas, uma bruxaria capaz de montar um trapézio dentro do meu subsolo, saltitando o melhor de mim, dissolvendo minhas molduras. Em um programa televisi-
-vo alguém recitou William Blake: “nenhum pássaro voa alto demais se ele voa com as próprias asas”. Talvez seja por isso que as imagens do Bruxo Cesário ultrapassam a perfeição, ele percebe as asas do nosso olhar, levitando o pasmo de nossas quimeras.